terça-feira, 24 de maio de 2011

Ernst Theodor (Wilhelm) Amadeus Hoffmann






Ernst Theodor (Wilhelm) Amadeus Hoffmann

    Ernst Theodor Wilhelm Hoffmann, que em homenagem a seu mestre por excelência mudou o sobrenome para Amadeus, destacou-se no romantismo alemão devido a seus belos e magistrais contos extravagantes.
Entretanto, também contribuiu coom sua genialidade pioneira em outros segmentos da arte universal, tais como música e pintura.
    Nascido a 24 de janeiro de 1776 em Köningsberg, desde cedo salientou-se pela aptidão às artes. Foi um mestre do romantismo alemão, que influenciou alguns dos mais proeminentes escritores do gênero e que se mostrou um dos mais esmerados autores da fantasia. Além de atuar de maneira decisiva nas meditações de Freud e da Psicanalise.
    Em seus contos sempre há um caráter ambíguo e excêntrico, e a escrita poética e muitas vezes melancólica delata uma predisposição ao gênero. Suas personagens são muitas vezes presas de si mesmas; e sempre há um horror obscuro à espreita, um mistério a ser revelado que trará consigo um misto de medo e de repugnância.
    Muitas de suas obras figuram em renomadas coletâneas e merecem o devido respeito e admiração por seu pioneirismo e originalidade.

    Podemos destacar, entre seus contos mais famosos os seguintes:
  • O Reflexo Perdido
  • O Homem Da Areia
  • Os Autômatos
  • O Violino De Cremona
  • O Vaso De Ouro
  • Os Espiões
  • O Castelo Mal- Assombrado
    Aqui contenho-me em fazer uma breve resenha de uma coletânea que não faz jus à sua imensa colaboração
ao gênero do fantástico visionário. São quatro contos, dos quais apenas um (que o leitor descobrirá
logo qual é) representa aquilo que Hoffmann foi em sua essência.






O Castelo Mal- Assombrado
Editora Círculo do livro
Seleção e tradução de Ary Quintella


  • O HOMEM DA AREIA
    Certamente o conto mais empolgante e rico e o que alcançou maior fama no cenário mundial deste principesco escritor, o Homem da Areia aborda um dos contextos mais misteriosos e complexos de todas as narrativas: a ilusão. Aqui não se trata de uma simples ilusão, de um arroubo da natureza que insiste em enganar a personagem; mas a ilusão de um amor, de uma paixão descontrolada. Um homem contrói uma máquina que envolve um homem até despertar neste um profundo e mórbido interesse. Um homem austero e imponente, um medo infantil do personagem criado pela mãe, as visitas noturnas do homem de areia e por fim, a visão de uma mulher perfeita mas que possui uma personalidade frígida e desprovida de vontade própria.
    Talvez esse conto se destaque mais ainda por ser um dos primeiros a se valer daquele injusto mas eficaz efeito de se sustentar até o final da narrativa o suspense, o segredo, o mistério a ser descoberto; e que por fim revela a terrível verdade que desde o início aterrou o leitor e torturou as personagens. Encerrando assim uma longa cadeia de fatos e acontecimentos que desde o início colocaram o leitor num estado de enlevo e de expectativa.
  • DON JUAN



    Um conto inteiramente desprovido de sentido; certamente o autor quisera demonstrar seu entusiasmo pelo teatro dissimulando-o na forma de um conto.
    Não há ligação entre as personagens e o cenário e os acontecimentos não são intrínsecos entre si. A riqueza de palavras e expressões musicais denotam o vasto conhecimento do autor e sua predisposição para a música e sua distinta cutura; porém ele não estava frente a uma partitura, mas sim a uma folha em branco, na qual não soube dar contexto aos fatos, e deixou a narrativa tomar o caráter de uma teia confusa e tecida por palavras ambíguas.
    Em suma, a aparência panorãmica do conto é, indubitavelmente, a de um relato visionário feito por um boêmio em noite de verão.



  • ATÉ QUE O OLHO ME CHAME (GLUCK)
    Novamente aqui o autor se perde em digressões sobre a arte da música. Não se dá ao trabalho de prender o leitor mediante a imagem traçada pela síntese da narrativa.
    Não há um sentido em que se focar, não há um acontecimento que excite a curiosidade do leitor.



  • O FANTASMA NOIVO



    Aqui vemos certa preocupação do autor em formar diante do leitor um cenário acolhedor, que inspire uma imagem a ser impregnada na mente do leitor, cuja aparência e influência irá perdurar até o final da narrativa.
    O autor discorre sobre o medo depertado das profundezas da alma, que vaga por ente nós no silêncio e no escuro da noite e no frio do inverno, defronte a uma aquecida lareira. E a solicitude das personagens em entregar-se a histórias de fantasmas que suscite esse medo, cujo terror assombra as presenças femininas.
    Então temos a personagem singular, que aparece sob a forma de um suspeito conde que traz consigo todos os atributos de que necessita um fantasma para impor seu caráter perturbador, e que desperta na moça o ódio e o horror de um noivo do além.
    A narrativa se perde num emaranhado de relatos que termina em um acontecimento funesto que parece ser a essência do conto a inesperada e pretensa morte do conde. Um personagem que aparece depois de ser dado como morto, para alegria da moça e então o conto acaba com um final totalmente distinto de seu começo, aparentando ser o fim de outra narrativa.



  • O CASTELO MAL- ASSOMBRADO ( O MORGADIO)

    Por ser um dos precursorres do conto fantástico, o autor há de ser perdoado pela negligência que demonstra em suas histórias. A falta de certos elementos, ou mesmo a forma errada de apresentá-los e inserí-los na narrativa se deve certamente aos recursos da época e ao caráter primevo que está expressso nos contos.
    Certamente Hoffmann foi um escritor autêntico, e que se preocupava em dar a seus contos um aspecto fantástico e visionário, porém muito se perde em suas histórias. É o que se dá nesse último conto dessa coletânea; muitas personagens, a ausência de detalhes peculiares de um conto de terror, muitos acontecimentos de uma mesma natureza a falta de uma diversidade dá ao conto um caráter enfadonho e não desperta no leitor aquela avidez por virar a página, por saber o que se dará no final, que por sinal é impreciso e confuso.
    Muitas sub-narrativas incluem-se no contexto e contribuem para a impressão inicial de que o autor não se lançou a um propósito definido quando se postou à frente da página em branco.
    Por fim a impressão que fica é que o autor reuniu aqui um montante de relatos feitos em diferentes épocas e deu a eles uma liiraga para que parecesse um conto.

    Enfim, certamente a presente coletânea não apresenta o melhor de Hoffmann se formos levar em conta sua capacidade de entrelaçar os acontecimentos e reuní-los em um enredo que empolga e fascina. Porém sua imaginação para tecer os detalhes, descrever as personagens e construir uma atmosfera está aí bem evidente.
    Talvez o primeiro conto compense o tempo dispensado à leitura.
    Até a próxima.

        Por Moisés de Oliveira