domingo, 31 de julho de 2011

Hell House - A Casa Infernal




Hell House A Casa Infernal - Richard Matheson
Hell House

  Abstenho-me aqui de introduzir qualquer preâmbulo acerca do tema "casas mal-assombradas", o que já fiz em minha humilde resenha sobre o romance A Assombração da Casa da Colina, de Shirley Jackson. Pois, de fato, em Hell House - A Casa Infernal, Richard Matheson aborda o mesmo tema, embora em seu romance os espíritos e assombrações que habitam a casa são mais palpáveis e suas manifestações realmente destroem aquilo que parecem julgar ameaçador.
  Lançado pela primeira vez nos EUA em 1971 pela editora Viking Press, esse autêntico símbolo da moderna novela de horror só foi traduzido para o português em 2009, em uma iniciativa pioneira da editora Novo Século. Devo ressaltar- e aqui expresso uma opinião estritamente pessoal- que a tradução é decepcionante e quem aguardou ardentemente por mais de 30 anos pela versão em português, não se sentirá plenamente satisfeito.   
No entanto a leitura é agradável, a atmosfera que o autor cria é assustadoramente mórbida e claustrofóbica. O elemento religioso é amplamente explorado, vindo à tona na personagem de Florence Tunner, a bela e jovem médium solícita da história. O ceticismo e a descrença se vêem profundamente impregnados em Lionel Barret, um distinto físico que vê então uma oportunidade única não somente para provar sua revolucionária teoria, como também para garantir uma aposentadoria tranqüila e suntuosa.
  Deutsch, um ancião milionário enfermo e à beira da morte- isso não é descrito abertamente no romance, mas os motivos implícitos em sua proposta esclarecem-no- dá uma semana para que Lionel Barret lhe dê uma resposta definitiva acerca de um mistério tão antigo quanto o homem possa se lembrar: - Há vida após a morte? O velho afirma que, se há um lugar na terra onde essa pergunta pode encontrar sua resposta (e certamente positiva), então esse lugar é a Casa Belasco, a Casa Infernal, que comprara nos últimos dias, e lhe oferece 100 mil dólares pela resposta, ainda que negativa, apresentando fatos plausíveis conclusivos.
  Junto com o eminente físico, no entanto, vão mais 2 pessoas; Florence Tunner, uma jovem e promissora médium espiritualista, que dirige uma pequena igreja e que vê na empresa a ocasião para poder erguer o templo religioso, que tanto sonhara; e Benjamin Fischer, o único sobrevivente da última peregrinação à casa, 30 anos antes, e que, na época era tido como o mais poderoso médium do país com apenas quinze anos, mas que atualmente se encontra bloqueado. Ambos receberão, também, 100 mil dólares cada, e cujos enfoques são igualmente importantes para o esquelético Rolf Rudolph Deustch. A quarta integrante da incursão é Edith, a esposa do Dr. Barret, cujos medos e receios não a impedem de acompanhar, à guiza de amparo e incentivo, seu ansioso e coxo marido. A eles são assegurados todos os meios e fundos para o sucesso de sua empresa e todos os amparos para sua estadia na casa.
  A funesta mansão, tida como o monte Everest das casas mal- assombradas, encontra-se no fundo do Vale Matawaskie, encoberta por uma neblina esverdeada e mergulhada nos odores fétidos do Pântano dos Bastardos, assim descrito por Fischer. Suas janelas estão emparedadas, o que não permite que a luz exterior ilumine o interior da casa. Suas acomodações são luxuosas e a arquitetura é colossal, conferindo um ar de imponência e austeridade à casa.
  Logo no início nos deparamos com uma passagem sombria e tremendamente perturbadora; uma gravação deixada pelo proprietário- Emeric Belasco- não se sabe para quem precisamente, ressoa sem o menor estímulo físico. E seu caráter, embora num primeiro instante, seja quase acolhedor, em seguida se mostra bastante ameaçador. De imediato, Florence, a bela e sensual médium, se mostra tremendamente suscetível às influências da casa; afirma estar estabelecendo contato com uma entidade do além. Dr. Barret espera o envio da máquina de sua patente, cujo objetivo será mostrar que as manifestações e eventos paranormais presenciados na casa não passam de energia residual eletromagnética presente no ambiente. Porém os acontecimentos são perturbadores, bandejas que voam em direção aos visitantes, xícaras que se quebram inexplicavelmente, mesas que são sacudidas veementemente, um gato que literalmente encarna o espírito de um falecido morador, uma cadeira de balanço que se move sozinha à noite, enfim, uma profusão de acontecimentos sombrios que fazem com que as convicções da médium e do físico entrem em atrito.
  Afinal descobre-se que a história da casa está profundamente imersa num oceano de obscenidade e luxúria, e que atos blasfemos e pagãos têm sido praticados incontáveis vezes em grupos, e que consistira em uma rotina nos dias de vida dos Belasco. A própria Edith, esposa de Barret, se vê possuída por uma entidade promíscua e é impulsionada a atos de volúpia e devassidão. Talvez a sua abstinência sexual devido à impotência de seu marido ocasionada pela poliomielite, seja usada pela entidade, mostrando que a casa apela para as necessidades e crenças daqueles que deseja destruir. E das duas últimas excursões que se dirigiram à Casa Belasco, das quais desencadeou-se uma trágica seqüência de suicídio,loucura e assassinato, apenas Fischer, o médium, há mais de vinte anos, conseguira sair com vida.
  A narrativa segue um ritmo acelerado em determinadas partes e metódico em outras; e talvez o fato de o autor procurar explicar todos os eventos paranormais com elucubrações científicas, protagonizadas pelo Dr. Barret e a constante relutância de Florence, venha a tornar a leitura um pouco taciturna. Pois certamente os principais fatores que prendem diretamente o interesse do leitor na narrativa de terror ou sobrenatural, é o desconhecido, a incerteza, o sentimento de que aquilo é fatalmente inexplicável, que poderia realmente acontecer e que ninguém está a salvo.
  É bem verdade que há na novela um toque de horror que nos força a lançar um olhar desconfiado em redor, como nas vezes em que Florence está no seu quarto e recebe as visitas da entidade que a perturba, a maneira como é descrita a respiração próxima, porém invisível, a forma que assume a coberta, e outras já citadas anteriormente, mas em algumas passagens o autor torna-se bastante prolixo e em outras enfadonho, tentando dar a tudo um ar de naturalidade, como se a teimosia de Barret não fosse acabar nunca, a irritante insistência de Florence em que tudo são mensagens de uma personalidade que a contata e lhe suplica ajuda e a forma que o desfecho se dá; como que se, em determinado momento, alguém batesse na porta e Richard Matheson tivesse que finalizar rapidamente seu romance.
  Enfim, é um romance que segue um propósito bem definido e que certamente não prenderá a atenção do leitor do início ao fim, mas não significa que seja vulgar ou maçante, até porque sua leitura não requer muito tempo e apresente uma linguagem bem simplificada e acessível.
  Há um filme lançado em 1973 pela 20Th Century Fox e dirigido por John Hough; um filme que conseguiu captar toda a essência que Richard Matheson certamente pretendia inserir no romance, mas que foi ofuscada pela já citada profusão de explicações e termos científicos. Certamente figurará entre os maiores clássicos do gênero de terror do cinema.

terça-feira, 26 de julho de 2011

BREVE COMENTÁRIO SOBRE A TRAJETÓRIA DE EDGAR ALLAN POE



Breve Comentário Sobre A Trajetória de Edgar Allan Poe

Sabemos hoje que se deve a Poe a expansão do conto de horror, por ter introduzido no gênero certo toque de terror psicológico, e ao mesmo tempo outorga-se ao esplêndido e magnífico escritor da nova Inglaterra o título de criador da moderna narrativa policial; no entanto há muito,quando este grande escritor iniciava sua malfadada carreira, os grandes editores não aceitavam isso. Naturalmente o sucesso não viria tão cedo, pois só o tempo se encarregaria de mostrar ao mundo a veracidade do que se devia a literatura a Poe; hoje temos consciência do que significa a influência deste mestre na história da poesia e do conto, mas isso só depois de variados e complexos estudos e reflexões acerca de sua obra. Na época da entrada de Poe no mercado literário nada se sabia sobre seus feitos, que por sinal ainda não se mostravam em grande número. Partindo deste princípio de raciocínio torna-se aceitável dizermos compreensível o ceticismo dos literatos contemporâneos de Poe e, levando em conta o preponderante fato de que nada era capaz de lançar tão fácil e rapidamente qualquer escritor, por mais brilhante que fosse, podemos até chegar ao ponto de afirmarmos correto o receio que lançaram ao recém chegado no ramo. O que se estranha é que as críticas a Poe eram constantes e raramente positivas; seu caráter fazia-se ofensivo e tornava-se, de certo modo inaceitável. Devemos considerar o ser extremamente singular, a conduta rude e as desavenças familiares somadas à personalidade forte e inflexível do jovem autor. Assim quase chegamos ao ponto de dizermos promissor o boicote feito com tanto desdém à carreira daquele que mais tarde transformar-se-ia no maior escritor de terror da história das letras e importante fator influenciador de mestres modernos do gênero. Não obstante devemos reconsiderar o fato, devemos fazer justiça e enfatizar o incôngruo dessas afirmativas sociais e profissionais com o gênio magistral, com a criatividade esmerada, com o carinho que este autor tratava suas letras e as entrelaçava para pintá-las no papel. Notamos na sua obra o sensível mas imprescindível toque de genialidade incontida e de relações poéticas que se mostram em incomensurável profusão; não devemos deixar passar despercebida a completa carência de inspiração que se tinha quando de seu período e localização literários. O total absenteísmo desse incentivo por si só já se converteria em fracasso para o jovem talento; mas não foi isso que atrapalhou a vida do seu conjunto literário em sua essência criativesca, pois se notarmos a dificuldade que se encontrou em divulgar suas histórias dir-se-ia imensamente falto de inteligência artística, o que sabemos não ser verdade; mas não tendo um parâmetro para comparação, seus feitos caíam no estranho e no trivial. O fato é que o autor tinha desmedida capacidade para escrever, mas seus contos iam de encontro às necessidades da época e aos estilos contemporâneos, o que era na verdade uma ignorância mental e espiritual da sociedade da época, a pronta e total rejeição ao novo, ao inovador; podemos até ir além e afirmarmos que no século em que se experimentou o nascimento do gênio do terror as pessoas tendiam a afastar tudo que apresentasse algum cunho de horror, de bizarro, de loucura e (sobretudo) de realidade presente.Mas estamos estudando aqui as adversidades sociais e profissionais que Edgard Allan Poe enfrentou, enquanto muitos outros obstáculos levantavam-se e concorriam para atrapalhá-lo o mais possível, e por muitos e piores apuros o pensador, filósofo, poeta e mais proeminente mestre do sobrenatural que o encantador mundo das letras já revelou,Edgard Allan Poe, iria passar. 

    Por Moisés de Oliveira

A ASSOMBRAÇÃO DA CASA DA COLINA







A Assombração da Casa da Colina - Shirley Jackson
The Haunting Of Hill House

    As casas mal- assombradas são, desde os primórdios da literatura, um tema amplamente abordado pelos mais distintos escritores, em épocas diversas. Uma mansão, uma mansarda, um casebre ou um imenso castelo, constituem sempre um cenário ideal para fantasmas, espíritos e eventos sobrenaturais. Uma herança que foi deixada, um refúgio da chuva, uma expedição para estudos, enfim, são alguns dos muitos motivos que levam a personagem, ou um grupo delas, a adentrarem uma casa que todos da vila, da cidade, da região imaginam ser assombrada e da qual passam sempre ao largo, com olhares furtivos, julgando terem visto algo através da vidraça, ou algo balouçando na torre.
    Talvez no cume da montanha desse sub- gênero, encontre-se A Assombração Da Casa Da Colina, de Shirley Jackson. O livro, cujo título original é The Haunting Of Hill House, foi pulbicado pela primeira vez em 1959, nos Estados Unidos, onde desde então vem sendo reeditado regularmente; entretanto, no Brasil teve apenas uma edição de 1983, publicado pela Francisco Alves na cultuada coleção Mestres Do Horror E Da Fantasia, sob a tradução de Edna Jansen de Melo.
    O livro divide opiniões, ao passo que é tido como o melhor romance gótico sobre mansões mal- assombradas por uma parcela dos amantes do gênero, e como uma narrativa enfadonha e comum por outra. "Brilhante", foi a palavra do Saturday Review, o The New Yorker o classificou como "O Clássico Arrepiante do Suspense Sobrenatural, "Uma História de Assombração do Mais Alto Requinte", qualificou o The New York Times.
    A propósito, a história pode receber diversas classificações entre positivas e negativas, mas a menos correta seria "vulgar"; o romance é, sobretudo, incomum. Foge dos padrões literários primevos e modernos e apresenta um estilo ímpar na história das narrativas. O horror é impalpável, psicológico; em nenhum momento há sangue derramado e agressão física, salvo nas vezes em que o sangue é usado para grafar palavras na parede e para encharcar as roupas de uma das personagens. A narrativa segue um rítmo frenético, a ausência de vírgulas onde muitas das vezes eram esperadas, faz o leitor virar a página com uma ávida rapidez. O texto flui em certas ocasiões em uma torrente impetuosa de palavras e expressões que impede a interrupção da leitura sob nenhum pretexto. A linguagem é poética e quase musical, e protagoniza alguns dos momentos mais belos e memoráveis da
moderna ficção, mas nem de longe é das mais complexas e rebuscadas, o que, não obstante, não tira do texto em geral, a intensa e esmerada qualidade literária; o macabro torna-se mais brando e a atmosfera sombria é apenas sugerida, através de expressões pouco usuais dentro do gênero.
    A atmosfera criada pela autora já nos primeiros parágrafos e ganha elementos peculiares através dos medos, apreensões e traumas vividos pela suposta personagem principal, e detalhes pitorescos e sobrenaturais quando Elenanor, a personagem em questão, se dirige para a casa, uma mansão erguida à curva da estrada, envolta em densos arvoredos de frente para as profusas colinas verdejantes. O medo e o horror são ambos psicológicos e emana de dentro das personagens, irradiando em derredor uma aura perturbadora. Os acontecimentos sobrenaturais são poucos mas todos têm um objetivo bem claro e explícito, a disposição da narrativa flui para um final assustador e em toda a história paira uma atmorfera de ambigüidade e de incerteza, deixando no leitor uma impressão suscetível e um
medo que o faz olhar para o canto mergulhado em sombras e certificar-se de quem está segurando sua mão. A narrativa é em terceira pessoa, mas ao longo da história a autora emprega um constante monólogo em primeira pessoa para expressar o pensamento de Eleanor.
    A casa em si é bela e imponente, uma construção consistente e cujos tijolos parecem aderir perfeitamente uns aos outros. Mas por dentro respira um ar de abandono e decadência iminente; à noite ela está sempre imersa na escuridão, os Dudley- os criados- nunca ficam após o escurecer, e a casa fica vazia e quieta. Nas palavras da própria autora, "O silêncio cobre solidamente a madeira e a pedra da Casa da Colina, e o que por lá ande, anda sozinho". Os seus ângulos são confusos, uma linha reta ao término de uma parede parece convergir em outra direção e outro sentido, um ângulo, que deveria ser naturalmente reto, parece inclinar-se a um lado ou outro, conferindo à casa um desequilíbrio estético, que na opinião das personagens, causaria um certo mal- estar, uma predisposição ao sinistro e ao funesto. As portas não possuem um ponto centralizado e o menor ruído ou o mais discreto passo seriam suficientes para elas se fecharem, supostamente sozinhas. A casa parece viver, parece possuir uma consciência e um sentimento próprios, e até um coração; uma barreira glacial, na soleira da porta do quarto das crianças, de onde exala uma corrente de ar frio que pega de surpresa quem quer que passe sob o umbral. As pessoas que a alugavam fugiam já nos primeiros dias, sem dar explicações, para nunca mais voltarem; e a gente da região a tinham como uma casa má e hostil, com relatos arrepiantes ao longo de sua história e mantinham-se sempre à distância, refugiando-se em suas superstições contra a malígna Casa da Colina, que subsistira por oitenta anos desde sua construçao e se sentia sólida o bastante para perdurar por mais oitenta.
    Fora construída por um empressário da industria têxtil, Hugh Crain; cuja mulher morrera sem nunca ter visto a casa por dentro. Suas duas filhas a herdaram após sua morte, e noivados e desapontamentos no amor fizeram com que a irmã mais velha fosse morar na casa, a princípio sózinha e posteriormente com uma dama de companhia. Após a morte da irmã mais velha, que morrera de pneumonia, reclusa na casa, houve uma ação juducial e a
acompanhante herdou a casa. Sucedeu-se então uma extensa série de processos por parte da irmã mais nova, que desejava sobretudo, a casa. A acompanhante a acusou de entrar na casa durante a noite e roubar certos utensílios de valor, depois insistiu que alguém vagava pelos corredores e após um período de tempo foi encontrada pendendo do minarete da torre. Após a sua morte a propriedade passou legalmente aos Sanderson, que eram seus primos, e aqui morria a linhagem dos Crain com relação à casa. Na última vez em que a irmã mais nova fora vista, esta insistia em que nunca houvera invadido a casa, por qualquer razão que fosse. O que costituía talvez o primeiro sinal da verdadeira influência da Casa da Colina.
    A casa permaneceu inabitada durante vinte anos, até que um dia uma expedição foi formada por um certo doutor Montague, constituída deste e de mais três pessoas, Eleanor Vance, uma solteira que acabara de perder a mãe e que se culpava por isso; Theodora, uma jovem que dividia um apartamento com uma amiga e que demonstrava sutis tendências homossexuais e Luke Sanderson que fora admitido pelo doutor apenas por exigência da atual proprietária da Casa da Colina, o que condicionava a realização das experiências do doutor Montague. Todos os seus convidados, com exceção de Luke, foram rigorosamente selecionados, dentre uma extensa lista, por possuírem, ao longo da vida, ao menos um acontecimento sobrenatural ou paranormal.
    Os dias passam na casa da Colina sem que seus habitantes tenham o mínimo contato com o mundo lá de fora, formulando suas dúvidas e fazendo anotações e não tarda para que a casa lhes dê uma resposta. Algo parece percorrer os corredores dando sonoras pancadas nas portas tentando arrombá-las e uma risadinha sarcástica ecoa por entre as paredes da Casa da Colina. Frases são escritas nas paredes às vezes com sangue, destinadas a Eleanor. Uma voz terna e infantil pede ajuda no silêncio da noite e um frio insiste em assolar os acolhedores quartos em determinadas ocasiões. Talvez uma das mais assustadores passagens da narrativa seja uma em que Eleanor julga estar segurando firmemente a mão de theodora. E percebe ao se acenderem as luzes, que esta encontra-se fora de seu alcance.
    Eleanor começa então a centralizar involuntariamente as atenções do grupo e da mansão, e a assombração parece saber seu nome, parece conhecê-la; os fatos começam a aprofundar os visitantes em uma aura de horror e medo e tudo ruma para um final trágico quando a esposa do doutor se junta ao grupo, com sua prancheta e sua ânsia por ajudar algúem ou alguma consciência intranquila que vaga suplicante pela casa. Eleanor, após protagonizar eventos perigosos que colocam em risco sua mente e sua pessoa é enviada de volta para sua casa. À essa altura Eleanor se sente parte da Casa da Colina, ama-a como se fosse seu eterno lar e se recusa a partir. Apela para fatores emocionais, alegando não ter aonde ir. Finalmente é posta dentro de seu carro com sua mala de roupas e "expulsa" da Casa da Colina.   
    O final é surpreendente e remete o leitor a um estado de ânimo plangente, ao mesmo tempo em que o assusta. Enfim o romance certamente agradará aquele que sabe apreciar um horror sutil e que beira o real, que se apresenta de forma psicológica e ambígua; e será ignorado por aqueles que admiram o terror mais fantástico e macabro.
    The Haunting Of Hill House recebeu duas adaptações para o cinema; uma que segue quase à risca a história original, produzida em 1963 em preto e branco pela MGM sob a direção de Robert Wise, com Julie Harris, Claire Bloom, Richard Johnson e Russ Tamblym chamada simplesmente de The Haunting, que no Brasil foi chamada de Desafio do Além; talvez as sombras e a atmosfera criada pelo preto e branco juntamente com a verossimilhança com a narativa original façam dessa versão a mais aclamada e mais aceita entre os fãs da obra. A outra prozudida pela DreamWorks, em 1999 e dirigida por Jan De Bont, com Liam Neeson, Catherine Zeta- Jones, Owen Wilson e Lili Taylor; também intitulada The Haunting e traduzida como A Casa Amaldiçoada. Esta última adulterou um pouco a história e introduziu efeitos especiais em demasia; entretanto, a seu modo, é um bom filme também.

        Por Moisés de Oliveira

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Richard Matheson




Richard Matheson

Nascido em Allendale, Nova Jersey em 1926 e graduado na Brooklyn Technical School, Richard Matheson, que publicou seu primeiro conto intitulado Nascido de Homem E Mulher (Born Of Man and Woman), em 1951 pela Magazine of Fantasy and Science Fiction, tornou-se famoso a partir da segunda metade do século vinte com suas novelas Eu sou a Lenda (I Am Legend), publicado em 1954, O Incrível Homem Que Encolheu (The Shrinking Man), de 1956 e posteriormente A Casa Infernal (Hell House), em 1971;.
            Dono de uma escrita empolgante e direta, com diálogos cortantes, tem recebido, em uma carreira relativamente longa (que perdura até hoje, vive na Califórnia desde 1951), prêmios prodigiosos no meio literário; dentre eles destaco o World Fantasy Award pelo Life Archievement em 1984, além do Hugo Award, do Bram Stoker Award, o Golden Spur Award e do Edgar Allan Poe Award.
            Além de grandes clássicos da literatura moderna de terror, fantasia e ficção científica, Matheson tem-se aventurado também no cinema, cuja contribuição tem sido enorme: escreveu alguns dos mais aclamados episódios da famosa série de TV Twilight Zone, série lançada no Brasil com o título Além da Imaginação; escreveu e roteirizou filmes como O Incrível Homem Que Encolheu de 1955, A Queda da Casa de Usher de 1960, Contos de Terror de 1962, O Corvo de 1963, O Último Homem Sobre a Terra de 1964, A Casa de Noite Eterna de 1973, dentre outros.
            Ray Bradbury considera-o como um dos mais importantes e proeminentes escritores do século vinte, cujo estilo literário inspirou outros notáveis escritores; na série Arquivo- X há um senador com o nome de Richard Matheson, claramente em homenagem ao escritor e no misterioso jogo Silent Hill foi dado seu nome a uma rua da cidade abandonada às cinzas.
            Recentemente seu trabalho vem sendo reeditado no Brasil, incluindo as novelas Eu Sou A Lenda, O Incrível Homem Que Encolheu e Hell House – A Casa infernal; e um novo filme veio às telas com o título de Eu Sou A Lenda, baseado em sua obra homônima.

      Por Moisés de Oliveira

terça-feira, 24 de maio de 2011

Ernst Theodor (Wilhelm) Amadeus Hoffmann






Ernst Theodor (Wilhelm) Amadeus Hoffmann

    Ernst Theodor Wilhelm Hoffmann, que em homenagem a seu mestre por excelência mudou o sobrenome para Amadeus, destacou-se no romantismo alemão devido a seus belos e magistrais contos extravagantes.
Entretanto, também contribuiu coom sua genialidade pioneira em outros segmentos da arte universal, tais como música e pintura.
    Nascido a 24 de janeiro de 1776 em Köningsberg, desde cedo salientou-se pela aptidão às artes. Foi um mestre do romantismo alemão, que influenciou alguns dos mais proeminentes escritores do gênero e que se mostrou um dos mais esmerados autores da fantasia. Além de atuar de maneira decisiva nas meditações de Freud e da Psicanalise.
    Em seus contos sempre há um caráter ambíguo e excêntrico, e a escrita poética e muitas vezes melancólica delata uma predisposição ao gênero. Suas personagens são muitas vezes presas de si mesmas; e sempre há um horror obscuro à espreita, um mistério a ser revelado que trará consigo um misto de medo e de repugnância.
    Muitas de suas obras figuram em renomadas coletâneas e merecem o devido respeito e admiração por seu pioneirismo e originalidade.

    Podemos destacar, entre seus contos mais famosos os seguintes:
  • O Reflexo Perdido
  • O Homem Da Areia
  • Os Autômatos
  • O Violino De Cremona
  • O Vaso De Ouro
  • Os Espiões
  • O Castelo Mal- Assombrado
    Aqui contenho-me em fazer uma breve resenha de uma coletânea que não faz jus à sua imensa colaboração
ao gênero do fantástico visionário. São quatro contos, dos quais apenas um (que o leitor descobrirá
logo qual é) representa aquilo que Hoffmann foi em sua essência.






O Castelo Mal- Assombrado
Editora Círculo do livro
Seleção e tradução de Ary Quintella


  • O HOMEM DA AREIA
    Certamente o conto mais empolgante e rico e o que alcançou maior fama no cenário mundial deste principesco escritor, o Homem da Areia aborda um dos contextos mais misteriosos e complexos de todas as narrativas: a ilusão. Aqui não se trata de uma simples ilusão, de um arroubo da natureza que insiste em enganar a personagem; mas a ilusão de um amor, de uma paixão descontrolada. Um homem contrói uma máquina que envolve um homem até despertar neste um profundo e mórbido interesse. Um homem austero e imponente, um medo infantil do personagem criado pela mãe, as visitas noturnas do homem de areia e por fim, a visão de uma mulher perfeita mas que possui uma personalidade frígida e desprovida de vontade própria.
    Talvez esse conto se destaque mais ainda por ser um dos primeiros a se valer daquele injusto mas eficaz efeito de se sustentar até o final da narrativa o suspense, o segredo, o mistério a ser descoberto; e que por fim revela a terrível verdade que desde o início aterrou o leitor e torturou as personagens. Encerrando assim uma longa cadeia de fatos e acontecimentos que desde o início colocaram o leitor num estado de enlevo e de expectativa.
  • DON JUAN



    Um conto inteiramente desprovido de sentido; certamente o autor quisera demonstrar seu entusiasmo pelo teatro dissimulando-o na forma de um conto.
    Não há ligação entre as personagens e o cenário e os acontecimentos não são intrínsecos entre si. A riqueza de palavras e expressões musicais denotam o vasto conhecimento do autor e sua predisposição para a música e sua distinta cutura; porém ele não estava frente a uma partitura, mas sim a uma folha em branco, na qual não soube dar contexto aos fatos, e deixou a narrativa tomar o caráter de uma teia confusa e tecida por palavras ambíguas.
    Em suma, a aparência panorãmica do conto é, indubitavelmente, a de um relato visionário feito por um boêmio em noite de verão.



  • ATÉ QUE O OLHO ME CHAME (GLUCK)
    Novamente aqui o autor se perde em digressões sobre a arte da música. Não se dá ao trabalho de prender o leitor mediante a imagem traçada pela síntese da narrativa.
    Não há um sentido em que se focar, não há um acontecimento que excite a curiosidade do leitor.



  • O FANTASMA NOIVO



    Aqui vemos certa preocupação do autor em formar diante do leitor um cenário acolhedor, que inspire uma imagem a ser impregnada na mente do leitor, cuja aparência e influência irá perdurar até o final da narrativa.
    O autor discorre sobre o medo depertado das profundezas da alma, que vaga por ente nós no silêncio e no escuro da noite e no frio do inverno, defronte a uma aquecida lareira. E a solicitude das personagens em entregar-se a histórias de fantasmas que suscite esse medo, cujo terror assombra as presenças femininas.
    Então temos a personagem singular, que aparece sob a forma de um suspeito conde que traz consigo todos os atributos de que necessita um fantasma para impor seu caráter perturbador, e que desperta na moça o ódio e o horror de um noivo do além.
    A narrativa se perde num emaranhado de relatos que termina em um acontecimento funesto que parece ser a essência do conto a inesperada e pretensa morte do conde. Um personagem que aparece depois de ser dado como morto, para alegria da moça e então o conto acaba com um final totalmente distinto de seu começo, aparentando ser o fim de outra narrativa.



  • O CASTELO MAL- ASSOMBRADO ( O MORGADIO)

    Por ser um dos precursorres do conto fantástico, o autor há de ser perdoado pela negligência que demonstra em suas histórias. A falta de certos elementos, ou mesmo a forma errada de apresentá-los e inserí-los na narrativa se deve certamente aos recursos da época e ao caráter primevo que está expressso nos contos.
    Certamente Hoffmann foi um escritor autêntico, e que se preocupava em dar a seus contos um aspecto fantástico e visionário, porém muito se perde em suas histórias. É o que se dá nesse último conto dessa coletânea; muitas personagens, a ausência de detalhes peculiares de um conto de terror, muitos acontecimentos de uma mesma natureza a falta de uma diversidade dá ao conto um caráter enfadonho e não desperta no leitor aquela avidez por virar a página, por saber o que se dará no final, que por sinal é impreciso e confuso.
    Muitas sub-narrativas incluem-se no contexto e contribuem para a impressão inicial de que o autor não se lançou a um propósito definido quando se postou à frente da página em branco.
    Por fim a impressão que fica é que o autor reuniu aqui um montante de relatos feitos em diferentes épocas e deu a eles uma liiraga para que parecesse um conto.

    Enfim, certamente a presente coletânea não apresenta o melhor de Hoffmann se formos levar em conta sua capacidade de entrelaçar os acontecimentos e reuní-los em um enredo que empolga e fascina. Porém sua imaginação para tecer os detalhes, descrever as personagens e construir uma atmosfera está aí bem evidente.
    Talvez o primeiro conto compense o tempo dispensado à leitura.
    Até a próxima.

        Por Moisés de Oliveira