domingo, 31 de julho de 2011

Hell House - A Casa Infernal




Hell House A Casa Infernal - Richard Matheson
Hell House

  Abstenho-me aqui de introduzir qualquer preâmbulo acerca do tema "casas mal-assombradas", o que já fiz em minha humilde resenha sobre o romance A Assombração da Casa da Colina, de Shirley Jackson. Pois, de fato, em Hell House - A Casa Infernal, Richard Matheson aborda o mesmo tema, embora em seu romance os espíritos e assombrações que habitam a casa são mais palpáveis e suas manifestações realmente destroem aquilo que parecem julgar ameaçador.
  Lançado pela primeira vez nos EUA em 1971 pela editora Viking Press, esse autêntico símbolo da moderna novela de horror só foi traduzido para o português em 2009, em uma iniciativa pioneira da editora Novo Século. Devo ressaltar- e aqui expresso uma opinião estritamente pessoal- que a tradução é decepcionante e quem aguardou ardentemente por mais de 30 anos pela versão em português, não se sentirá plenamente satisfeito.   
No entanto a leitura é agradável, a atmosfera que o autor cria é assustadoramente mórbida e claustrofóbica. O elemento religioso é amplamente explorado, vindo à tona na personagem de Florence Tunner, a bela e jovem médium solícita da história. O ceticismo e a descrença se vêem profundamente impregnados em Lionel Barret, um distinto físico que vê então uma oportunidade única não somente para provar sua revolucionária teoria, como também para garantir uma aposentadoria tranqüila e suntuosa.
  Deutsch, um ancião milionário enfermo e à beira da morte- isso não é descrito abertamente no romance, mas os motivos implícitos em sua proposta esclarecem-no- dá uma semana para que Lionel Barret lhe dê uma resposta definitiva acerca de um mistério tão antigo quanto o homem possa se lembrar: - Há vida após a morte? O velho afirma que, se há um lugar na terra onde essa pergunta pode encontrar sua resposta (e certamente positiva), então esse lugar é a Casa Belasco, a Casa Infernal, que comprara nos últimos dias, e lhe oferece 100 mil dólares pela resposta, ainda que negativa, apresentando fatos plausíveis conclusivos.
  Junto com o eminente físico, no entanto, vão mais 2 pessoas; Florence Tunner, uma jovem e promissora médium espiritualista, que dirige uma pequena igreja e que vê na empresa a ocasião para poder erguer o templo religioso, que tanto sonhara; e Benjamin Fischer, o único sobrevivente da última peregrinação à casa, 30 anos antes, e que, na época era tido como o mais poderoso médium do país com apenas quinze anos, mas que atualmente se encontra bloqueado. Ambos receberão, também, 100 mil dólares cada, e cujos enfoques são igualmente importantes para o esquelético Rolf Rudolph Deustch. A quarta integrante da incursão é Edith, a esposa do Dr. Barret, cujos medos e receios não a impedem de acompanhar, à guiza de amparo e incentivo, seu ansioso e coxo marido. A eles são assegurados todos os meios e fundos para o sucesso de sua empresa e todos os amparos para sua estadia na casa.
  A funesta mansão, tida como o monte Everest das casas mal- assombradas, encontra-se no fundo do Vale Matawaskie, encoberta por uma neblina esverdeada e mergulhada nos odores fétidos do Pântano dos Bastardos, assim descrito por Fischer. Suas janelas estão emparedadas, o que não permite que a luz exterior ilumine o interior da casa. Suas acomodações são luxuosas e a arquitetura é colossal, conferindo um ar de imponência e austeridade à casa.
  Logo no início nos deparamos com uma passagem sombria e tremendamente perturbadora; uma gravação deixada pelo proprietário- Emeric Belasco- não se sabe para quem precisamente, ressoa sem o menor estímulo físico. E seu caráter, embora num primeiro instante, seja quase acolhedor, em seguida se mostra bastante ameaçador. De imediato, Florence, a bela e sensual médium, se mostra tremendamente suscetível às influências da casa; afirma estar estabelecendo contato com uma entidade do além. Dr. Barret espera o envio da máquina de sua patente, cujo objetivo será mostrar que as manifestações e eventos paranormais presenciados na casa não passam de energia residual eletromagnética presente no ambiente. Porém os acontecimentos são perturbadores, bandejas que voam em direção aos visitantes, xícaras que se quebram inexplicavelmente, mesas que são sacudidas veementemente, um gato que literalmente encarna o espírito de um falecido morador, uma cadeira de balanço que se move sozinha à noite, enfim, uma profusão de acontecimentos sombrios que fazem com que as convicções da médium e do físico entrem em atrito.
  Afinal descobre-se que a história da casa está profundamente imersa num oceano de obscenidade e luxúria, e que atos blasfemos e pagãos têm sido praticados incontáveis vezes em grupos, e que consistira em uma rotina nos dias de vida dos Belasco. A própria Edith, esposa de Barret, se vê possuída por uma entidade promíscua e é impulsionada a atos de volúpia e devassidão. Talvez a sua abstinência sexual devido à impotência de seu marido ocasionada pela poliomielite, seja usada pela entidade, mostrando que a casa apela para as necessidades e crenças daqueles que deseja destruir. E das duas últimas excursões que se dirigiram à Casa Belasco, das quais desencadeou-se uma trágica seqüência de suicídio,loucura e assassinato, apenas Fischer, o médium, há mais de vinte anos, conseguira sair com vida.
  A narrativa segue um ritmo acelerado em determinadas partes e metódico em outras; e talvez o fato de o autor procurar explicar todos os eventos paranormais com elucubrações científicas, protagonizadas pelo Dr. Barret e a constante relutância de Florence, venha a tornar a leitura um pouco taciturna. Pois certamente os principais fatores que prendem diretamente o interesse do leitor na narrativa de terror ou sobrenatural, é o desconhecido, a incerteza, o sentimento de que aquilo é fatalmente inexplicável, que poderia realmente acontecer e que ninguém está a salvo.
  É bem verdade que há na novela um toque de horror que nos força a lançar um olhar desconfiado em redor, como nas vezes em que Florence está no seu quarto e recebe as visitas da entidade que a perturba, a maneira como é descrita a respiração próxima, porém invisível, a forma que assume a coberta, e outras já citadas anteriormente, mas em algumas passagens o autor torna-se bastante prolixo e em outras enfadonho, tentando dar a tudo um ar de naturalidade, como se a teimosia de Barret não fosse acabar nunca, a irritante insistência de Florence em que tudo são mensagens de uma personalidade que a contata e lhe suplica ajuda e a forma que o desfecho se dá; como que se, em determinado momento, alguém batesse na porta e Richard Matheson tivesse que finalizar rapidamente seu romance.
  Enfim, é um romance que segue um propósito bem definido e que certamente não prenderá a atenção do leitor do início ao fim, mas não significa que seja vulgar ou maçante, até porque sua leitura não requer muito tempo e apresente uma linguagem bem simplificada e acessível.
  Há um filme lançado em 1973 pela 20Th Century Fox e dirigido por John Hough; um filme que conseguiu captar toda a essência que Richard Matheson certamente pretendia inserir no romance, mas que foi ofuscada pela já citada profusão de explicações e termos científicos. Certamente figurará entre os maiores clássicos do gênero de terror do cinema.

Um comentário:

  1. Obrigada pela visita, Moisés :-)
    É sempre bom saber que consigo postar assuntos interessantes e livros que tragam bons momentos de leitura para outro apaixonado por livros :-D

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